09/05/2021

"IGOR" o melhor trabalho de Tyler, the creator.

 Que Tyler, the creator é um artista cheio de polêmicas, mística, fãs e haters isso não é novidade para ninguém. A parada aqui é sobre o álbum lançado em 17 de maio de 2019, IGOR (eee-gore), além de uma indicação, vamos aqui fazer uma análise deste trabalho que mais uma vez foge tudo que você já escutou.


O álbum no geral nos traz narrativas sobre relacionamentos, dependência e abusos emocionais, são diálogos e narrativas que se conectam de uma maneira tão intensa e inteligente que facilmente montam um cenário cinematográfico na mente de seus ouvintes.

Em IGOR Tyler não lançou singles antecipadamente, lançou o trabalho na íntegra e fez uma postagem sobre como seria a maneira correta de se consumir a obra pela primeira vez, na postagem ele também quebra qualquer expectativa sobre o trabalho ser uma sequência de algum álbum antecessor, ou ao menos ter alguma semelhança, Tyler desde o início quer deixar clara a singularidade deste trabalho.

"IGOR. Não é o Bastard. Não é Goblin. Não é Wolf. Não é Cherry Bomb. Não é Flower Boy. É IGOR. se pronuncia "eee-gore". Não chegue esperando um álbum de Rap. Não chegue aqui esperando qualquer tipo de álbum. Só vai, mergulhe de cabeça. Eu acho que a primeira ouvida funciona melhor passando por todo o percurso, sem pular faixas. Do início ao fim. Sem distrações. Sem verificar o celular, sem assistir TV, sem ficar conversando; atenção total aos sons onde você poderá tirar suas próprias opiniões e sentimentos sobre o álbum. Alguns caminham, alguns dirigem, outros deitam na cama e absorvem tudo. Qualquer que seja sua escolha, satisfaça-se plenamente. Com volume. Por mais que eu queira pintar um quadro e mostrar a você meus momentos favoritos. Prefiro que você mesmo o faça. Se algum dia nos cruzarmos, sinta-se à vontade para dizer quais foram esses momentos para você, faça isso numa hora oportuna, pois não estou tentando fazer um episódio da Oprah aqui.

Stank you smelly mucho.*"

SONORIDADE


É difícil falar da sonoridade do álbum como um todo, o trabalho começa com uma faixa cheia de tensão, um clima LO-FI vai nos levando no que parece uma intro de um filme policial indie, ou algo do gênero. "Igor's theme" é magnética e perfeita para criar uma atmosfera que nos faça querer saber mais sobre essa história que acabara de começar (Tyler nos avisou que o melhor é escutar o disco de maneira linear). A primeira faixa mal acaba e recebemos uma quebra de expectativa momentanea, escutamos a intro de "EARFQUAKE" e ela logo cresce, synths e pianos, um refrão perfeitamente acessível vão tomando forma e criando o que vem a ser uma das faixas mais viciantes do álbum. A faixa recebeu um clipe que traz um contraste interessante, mostrando a ambiguidade da obra e a estética da mesma.

Durante todo o álbum vamos ter esse aspecto LO-Fi e uma granulação de fita cassete o que traz um charme ao disco. Começamos a escutar "I THINK" e a musica tem uma levada R&B bem suave, com batidas dançantes por boa parte da música, no final da segunda metade da musica os synths ficam mais agudos em constraste com os pianos, criando um final mais grandioso a musica, na sequência temos "RUNNING OUT OF TIME" essa canção é sem duvidas uma das melhores faixas. O início minimalista um clima 80's synth, cheio de pads e com vozes costurando a música, até os 1:32 quando tudo se transforma em um swing criando uma ponte para um momento de pura sensibilidade e rima no que parece ser uma improviso a capela ou um episódio do "tiny desk sessions". Finalmente chegamos ao momento mais tenso do álbum "NEW MAGIC WAND" vem com uma poderosa linha de baixo cheio de fuzz e um beat claustrofóbico, o clima de tensão vai se construindo sobre a narrativa, a musica cresce e toma um rumo mais agressivo com vocais granulados, quando abruptamente somos pegos de surpresa por uma calmaria, que não dura muito, a tensão e a crescente da musica voltam com força total.

"A BOY IS A GUN" e "PUPPET" fazem uma sequencia de R&B lisérgico e trazem um respiro a atmosfera, o suficiente para a agressividade de "WHAT'S GOOD", aqui uma faixa cheia de fuzz, overdrive, e distorção em tudo, os baixos rasgados, beats de rap da década de 90, rimas cheias de punch lines, é onde Tyler deixa claro que ainda estamos escutando o álbum de um dos Rappers mais importantes da ultima década. "GONE GONE/THANK YOU" é uma faixa de construção complexa. Compassos de rock logo se perdem em beats e R&B, essa música lembra um pouco dos trabalhos ousados de André 3000 no álbum "speakerboxxx/the love below" da dupla outkast, mas com toda a personalidade de Tyler e completamente coerente com o álbum que nos absorveu até aqui, apesar da das referências aqui citadas é importante citar que "GONE GONE/THANK YOU" faz um trabalho de transição quase inimaginável aqui. A reta final é composta de duas faixas: "I DON'T LOVE YOU ANYMORE" e "ARE WE STILL FRIENDS?", Essas canções são quase que literais, um rompimento sonoro, e uma ambientação de fim de relacionamento anuncia que estamos prestes a terminar com esse que seria um álbum mais que inesquecível, a ultima faixa é quase que um pedido de desculpas somado a um adeus que não sabemos bem se fala com as personas inseridas no contexto do álbum, ou se ali o Tyler nos pergunta se ainda seremos amigos após tudo isso.

E assim terminamos essa experiência maravilhosa, IGOR é o maior trabalho de Tyler até hoje por diversos motivos, mas o que mais impressiona é a capacidade de se ligar ao ouvinte, seja pela narrativa, pela sonoridade ou pela estética, esse trabalho emociona e certamente vai criar uma conexão com você.







"SAWAYAMA" O POP É ECLÉTICO?

2020 foi um ano ímpar em todos os aspectos, o isolamento fez com que as pessoas ficassem muito mais tempo na internet, as pessoas se conectaram como nunca antes, as atividades variaram desde maratonas de séries a redes sociais, e começar negócios na rede. E com as consequências da pandemia muitos artistas se dedicaram a seus projetos, este é o caso de RINA SAWAYAMA, a artista nipo-britânica já havia lançado um EP em 2017 chamado "RINA", este não foi muito comentado e passou despercebido, porém em 2020 a cantora nos presenteou com o surpreendente "SAWAYAMA" um disco que bebe de muitas fontes.

Tendo como base o pop, o álbum passeia em texturas de diversas décadas do mesmo, conversando até mesmo com arranjos do pop das Spice Girls, mas isso não é o que chama a atenção nesse trabalho, a segunda faixa do trabalho nomeada "XS" começa com um riff agressivo de metal, e se dilui em um dance/black ao melhor estilo Destiny's Child, isso é um prelúdio do que vem por aí.


A terceira faixa "STFU!" é uma mescla de nu-metal dos anos 90 com new-pop e pitadas de industrial, a obra ainda conta com muito de eurodance e electro asiático.

A aposta eclética e inovadora ganhou a crítica e fez barulho nas redes, para quem pensa que o disco é apenas uma obra bem produzida com boas sacadas se engana, o disco é uma obra intimista cheia de criticas a adaptação social, preconceito e a xenofobia, tudo vindo de experiências vividas pela artista.

Rina ganhou os holofotes, a atenção da crítica e muitos fãs neste período de pandemia, tudo por conta da verdade enraizada em seu trabalho e suas letras. A estética do seu trabalho também é bem diversa, mesclando o glam com insinuações de que a artista não é humana. O clipe de "XS" traz uma narrativa em que a artista começa a "bugar" em meio as coreografias de um comercial para um produto bem suspeito, a atuação e o roteiro do clipe remetem a obras que brincam com o desconforto e com o descabimento desta alienação social, como black mirror ou os clipes da banda Peeping tom.

O que muitos questionam aqui é o paradoxo recorrente que trabalhos como esse criam, afinal criticar a grande maquina e no final das contas se tornar uma engrenagem é o que os mais inflamados da contracultura chamariam de traição.

Em suma Rina Sawayma é apenas uma das boas surpresas que chegaram aos nossos ouvidos no ano de 2020, vale a pena ficar de olho no trabalho desta mulher peculiar e ver o quanto a Indústria vai aturar as alfinetadas de seu trabalho.